Juros: Fala de Lula e otimismo com nova regra fiscal aliviam taxas

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O mercado de juros experimentou à tarde forte alívio na pressão com que vinha operando desde a etapa inicial. As taxas de curto e médio prazos inverteram a alta e passaram a cair, enquanto as longas reduziram sensivelmente o avanço e fecharam de lado. O movimento reflete a redução dos ruídos envolvendo a relação entre o governo, mais especificamente o presidente Lula, e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, a partir de trechos da entrevista do presidente à CNN divulgados ao longo do dia. A percepção de que o Ministério da Fazenda trabalha para a apresentar um novo arcabouço fiscal "ambicioso", segundo apuração do Broadcast, também contribuiu.

Pela manhã, mesmo com os temores sobre a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) tendo sido esvaziados ontem, a expectativa para entrevista e dúvidas sobre a nova regra para reajuste do salário mínimo serviam de gatilho para um ajuste em alta após a queda forte das taxas ontem. No leilão de prefixados, o Tesouro elevou a oferta e conseguiu vender quase tudo, a taxas mais baixas do que na operação da semana passada.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,20%, de 13,27% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 encerrou em 12,53%, de 12,59% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2027 passou de 12,86% para 12,87% e a do DI para janeiro de 2029, de 13,20% para 13,21%.

A entrevista de Lula, que seria divulgada na íntegra às 18h, colocava o mercado na defensiva pela manhã, com os agentes na expectativa para saber se haveria novos comentários a respeito do trabalho do Banco Central e das metas de inflação, após a sinalização de alinhamento entre a autarquia e o Ministério da Fazenda e informações de que aliados aconselharam Lula a dar um trégua a Campos Neto.

À tarde, veio a confirmação. À CNN, ele disse que "não interessa brigar com um cidadão que é o presidente do BC", acrescentando que pouco conhece o comandante da autarquia. Foi a senha para a melhora do mercado, ainda que Lula tenha emendado que quando o chefe do Executivo era responsável pela indicação do presidente do BC, "você conversava". "Quando tinha que aumentar, aumenta, não tem problema nenhum, mas você tinha que cuidar do outro lado", disse.

Após cobrança de aliados do governo, principalmente da presidente do PT, Gleisi Hoffman, Campos Neto acertou ida à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado no começo de março.

Na esteira da boa repercussão da antecipação da apresentação da nova âncora fiscal para março, a informação de que técnicos da Fazenda receberam a incumbência de "não pensar pequeno" ao desenharem o novo arcabouço trouxe uma segunda onda de alívio nos prêmios de risco à tarde. Segundo apurou o Broadcast, a ideia é que o instrumento entregue a contento garantirá a elaboração da LDO de 2024 considerando os novos parâmetros, além de contribuir para o debate mais técnico do regime de metas.

Mais cedo, segundo o economista-chefe do Banco Modal, Felipe Sichel, também trouxeram desconforto as incertezas a respeito da nova regra para o salário mínimo. Lula confirmou que o valor vai subir dos atuais R$ 1.302 para R$ 1.320 a partir de 1º de maio e que terá lei da reposição inflacionária e crescimento do PIB.

"Não se sabe bem como será isso, faltam os detalhes de como esse crescimento do PIB será considerado", afirmou Sichel. No governo Dilma, a regra considerava o PIB de dois anos antes e o INPC do ano anterior. Lula também confirmou que a faixa de isenção do Imposto de Renda, por sua vez, vai subir para R$ 2.640.

Na gestão da dívida, mesmo com a abertura da curva, o Tesouro teve mais sucesso na emissão de prefixados nesta quinta. Vendeu boa parte (9,230 milhões) do lote de 10 milhões de LTN ofertado e toda a oferta de 650 mil NTN-F, com taxas pouco mais baixas do que na semana passada.

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