Juros: Taxas sobem com realização de lucros apoiada por leilão e fala de Lula

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Os juros futuros desaceleraram a alta ao longo da tarde desta quinta, 6, e fecharam com avanço apenas moderado nos principais contratos, dada a escassez de gatilho para os negócios na segunda etapa da sessão. Os principais movimentos foram registrados pela manhã, determinados pelo volume grande de títulos prefixados ofertados no leilão do Tesouro e repercussão negativa da fala do presidente Lula sobre meta de inflação e indicação nas diretorias do Banco Central. Se hoje as taxas subiram ligeiramente, mas em bloco, na semana a curva desinclinou, com aumento discreto da ponta curta e queda do trecho longo.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,26%, de 13,22% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 encerrou em 12,05%, de 11,96% ontem. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 12,01%, de 11,90%, e a do DI para janeiro de 2029 encerrou a 12,40%, de 12,29%.

Como nos últimos dias os prêmios vinham diminuindo em função da melhora do ambiente externo e da percepção fiscal após o anúncio do arcabouço, havia espaço para certa correção na curva. O principal gatilho foi o leilão do Tesouro, que ofertou 23 milhões de títulos - 20 milhões de LTN e 3 milhões de NTN-F - vendidos integralmente. Chamou a atenção especialmente o lote de NTN-F, papéis normalmente demandados pelo investidor estrangeiro, cuja participação nas ofertas há meses tem sido discreta.

Nas mesas de renda fixa, a leitura é de que a captação externa bem sucedida ontem do Tesouro abriu espaço para a instituição hoje testar o apetite dos investidores, especialmente os não-residentes - com títulos domésticos. A emissão do Global 2033 somou US$ 2,25 bilhões, com demanda de US$ 8,5 bilhões, o que permitiu reduzir o custo da operação.

O lote de 3 milhões de NTN-F foi a maior oferta do papel desde fevereiro de 2022 (3,5 milhões). O especialista em renda fixa Alexandre Cabral classificou a operação como "histórica". "Esse recado começou ontem com o leilão de bond e se confirmou com o de hoje. Temporariamente ou de forma permanente: temos a volta de gringo!", comemorou, no Twitter.

Para a curva do DI, porém, o leilão tem impacto de alta nas taxas, em função das operações de hedge que protegem o investidor contra o risco prefixado, sobretudo pelo risco elevado dos lotes, que somou, em DV01, US$ 947,3 mil, ante US$ 530,3 mil na operação da semana passada, de acordo com a Warren Rena.

Além do leilão, o mercado reagiu mal às declarações do presidente Lula dadas em café da manhã com jornalistas, que ampliaram os receios de ingerência política sobre o trabalho da equipe econômica. Ele comentou declarações do presidente do BC, Roberto Campos Neto, de que, para atingir a meta de inflação em 2023, a Selic teria que ultrapassar 20%. "É no mínimo uma coisa não razoável de ser dita", disse Lula. "Se a meta está errada, muda-se a meta", afirmou. Disse ainda que não ficará "brigando" com Campos Neto, uma vez que a instituição detém autonomia, mas lembrou que irá escolher dois indicados para ocupar a diretoria, referindo-se às de Política Monetária e de Fiscalização. "Novos diretores vão mudar de acordo com interesses do governo", disse.

Com as declarações, as taxas tocaram as máximas do dia, mas depois arrefeceram. Jefferson Lima, gerente da Mesa de Reais da CM Capital, explicou que a reação negativa posteriormente perdeu fôlego com o mercado priorizando a postura do ministro da Fazenda, cujas declarações nesta semana melhoraram a confiança com relação ao fiscal. "É o que acabou prevalecendo", afirmou. Hoje, em entrevista à BandNews, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o arcabouço fiscal irá exigir, mais do que permitir, a queda da taxa de juros.

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